Os experimentos de Rhine na Universidade de Duke
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No final da década de 20, na Universidade de Duke, o
Ph.D. em botânica, Joseph Banks Rhine, solicitou ao psicólogo Karl Zener
para projetar um grupo de cartas contendo símbolos fáceis de serem
visualizados. Com o polêmico sucesso dos experimentos de percepção
extrassensorial (PES), logo o baralho Zener, com suas famosas cartas de
círculo, quadrado, estrela, cruz e linhas onduladas, passou a ser
comercializado, principalmente em razão do fôlego que a pesquisa psi deu
às correntes místicas, alimentando um novo movimento cultural ainda na
primeira metade do século XX: a New Age.
Nos primeiros 800
estudos preliminares, utilizando-se as cartas, o efeito global
encontrado foi de 207 sucessos (26%), enquanto o esperado pelo acaso
seria 160 (25%). Embora o tamanho do efeito tenha sido minúsculo, o que
convencia Rhine sobre a genuidade da psi eram algumas interessantes
correlações psicofisiológicas. Por exemplo, o uso de drogas inibidoras,
como o sódio amital, reduzia o escore dos sujeitos, enquanto a ingestão
de estimulantes, a exemplo da cafeína, incrementava os resultados.
Alguns escores individuais também eram fonte de forte evidência. Na
série Pearce-Pratt, projetada para clarividência, em 1.850 tentativas,
Pearce acertou 558 vezes, enquanto 370 era o número esperado pelo acaso.
A probabilidade de que o acaso seja a explicação para esse resultado é
de 1 em 22 bilhões. O mencionado experimento é detalhado no capítulo
seguinte (sobre clarividência).
Sobre os melhores casos, Rhine
divulgou 3 deles com cartas PES (onde a expectativa do acaso era de 5
por tentativa): Linzmayer acertou 21 vezes de 25, Pearce fez 25 acertos
sucessivos, Lillian, uma criança, obteve uma pontuação perfeita e na
série de Reiss o sujeito teve em média 18 êxitos durante 74 rodadas de
cartas PES (A Compendium of the Evidence for Psi, 2003). A tal respeito,
Rhine também comentou:
"O melhor receptor submeteu-se à
experiência do baralho PES mais de 700 vezes durante os primeiros anos
de trabalho a que se refere o meu primeiro relatório, "Percepção
Extra-Sensorial", publicado em 1934. Este homem acusava a média de 8
sucessos em 25 tentativas, mais de 3 acima da expectativa para cada
baralho. Ora, a probabilidade é de 100 pra 1 a favor da média para
qualquer pessoa fazer 8 ou mais pontos em três séries sucessivas somente
pelo acaso. A fim de exprimir a probabilidade contra a média de 8
pontos ou mais somente por acaso para uma série de 700 ou mais
tentativas, seria necessário um parágrafo inteiro de algarismos. Esta
realização de um único indivíduo é tão significativa e elimina tão
completamente o acaso que não importa o que qualquer outro indivíduo
realizou. Independentemente do número de sucessos, não lhes seria
possível anular o caráter frisante fora do acaso da realização desse
único indivíduo!
Apesar disso, publicaram-se em sua totalidade
os resultados relativos a todas as experiências. De fato, no relatório
de 1934 fez-se questão de registrar todas as experiências para mostrar
que não se fizera qualquer escolha dos dados. Em consequência, a escolha
não caracterizou de qualquer maneira a interpretação dos resultados. O
número médio foi de 7 sucessos em 25. Algumas das experiências incluídas
nesse total geral foram realmente feitas coma intenção de baixar a
proporção de sucessos. Algumas constituíram simplesmente experiências
preliminares com indivíduos que não se sabia possuírem qualquer
capacidade PES. Foram todos incluídos, embora alguns só tivessem
atingido o nível de acaso de 5 e outros tivessem ficado abaixo do acaso.
Todavia, as experiências, em sua maioria, foram conduzidas com um grupo
escolhido de sujeitos que, nas experiências preliminares, revelaram
capacidade de acertar na ordem geral de 6 a 11 sucessos em 25. Mas,
conforme dissemos acima, incluímos na compilação geral de dados os
sucessos de todos os sujeitos recusados para experiências continuadas.
Em consequência, a média geral de 7 sucessos em 25 para mais de 85 mil
experiências separadas de chamadas de cartas realizadas com o baralho
PES representa todos os resultados (...)".
Deveras, o uso da
estatística alçou a pesquisa psíquica aos métodos mais usuais dentro das
ciências ditas “normais”. A constatação de habilidades psíquicas tais
como telepatia ou clarividência deixou de depender dos testemunhos
subjetivos de pessoas presentes numa séance, onde a ocorrência de
fraudes era uma constante em virtude do uso precário de medidas de
controle. A esse respeito, Rhine (1947) comentou que “a utilização das
regras do cálculo das probabilidades representa grande progresso no
processo. De fato, sem esse instrumento matemático de medida ter-se-ia
deixado parte tão grande à predisposição individual na interpretação dos
resultados que talvez nunca se estabelecesse firmemente a telepatia”.
Sete anos depois dos resultados preliminares, Rhine publicou o livro
intitulado Percepção Extra-Sensorial. Em seis anos, existiram cerca de
60 artigos, de 40 autores diferentes, criticando os resultados. A maior
parte da crítica referia-se às análises estatísticas. Um dos mais
persistentes opositores foi Chester Kellog, da Universidade McGill.
Rhine e colegas responderam-no à altura e o debate continuou até Burton
Camp, presidente do Instituto de Matemática Estatística, finalmente
selar a discussão. Numa conferência à imprensa em 1937, Camp declarou:
"As investigações do Dr. Rhine têm dois aspectos: um experimental e
outro estatístico. Na fase experimental os matemáticos, supõe-se, não
têm nada a dizer. Mas na fase estatística, recentes trabalhos
matemáticos estabeleceram o fato de que, admitindo que as experiências
tenham sido realizadas corretamente, a análise estatística é
essencialmente válida. Se a investigação de Rhine pode ser atacada, há
de sê-la em outro terreno que não o matemático."
Todavia, o
criticismo não parou. Os ataques agora seriam sobre falhas no projeto,
precisamente na existência de pistas sensoriais. Carter (2007) comenta
que “isso é verdade para alguns dos primeiros estudos exploratórios
feitos sem prover proteção adequada contra pistas sensoriais”, porém,
continua ele, o “criticismo desses experimentos distraiu a atenção para
além daqueles experimentos cujos resultados não poderiam ser explicados
por pistas sensoriais, como a série Pearce-Pratt”.
Céticos também
objetaram que, semelhantes a muitos baralhos Zener postos no mercado,
as cartas usadas por Rhine e colegas poderiam ser lidas por trás.
Parapsicólogos retrucaram que nenhum baralho com defeito foi reportado
nas pesquisas, além disso, tal deficiência não poderia explicar cartas
seladas em envelopes opacos ou testes quando os sujeitos estavam em
prédios distantes.
Com a publicação de Extra-Sensory Perception
After Sixty Years, em 1940, os procedimentos estatísticos foram
detalhados e as críticas foram refutadas. Os seis melhores experimentos
parapsicológicos não poderiam ser explicados por qualquer criticismo. O
status da Parapsicologia começou a solidificar-se e outros pesquisadores
iniciaram a replicar os resultados encontrados na Universidade de Duke.
Honorton (1975) disse:
"Em 1940 perto de um milhão de tentativas
experimentais haviam sido reportadas sobre condições que excluíam
vazamento sensorial. Essas incluíam cinco estudos nos quais as
cartas-alvo estavam em envelopes opacos e fechados, dezesseis que
empregaram telas opacas, dez envolvendo separação de sujeitos e alvos em
diferentes prédios e dois envolvendo tarefas precognitivas. Os
resultados foram, independentemente, significativos em 27 dos 33
experimentos. No final de 1930 havia um entendimento geral que os
experimentos PES com os melhores controles não poderiam ser respondidos
em bases de vazamento sensorial.
Contudo, uma das mais
provocadoras críticas céticas ainda estava por vir. Em resumo, ela se
consubstanciava em apoiar a tese de que os resultados mais positivos
encontrados no laboratório de Duke eram devidos a falhas de projeto e
que pesquisas independentes haviam fracassado em duplicar os resultados
de Rhine. A esse respeito, Honorton (1975) comentou:
"Uma pesquisa
da literatura publicada entre 1934 e 1940 falha em suportar essa
alegação. A tabela abaixo mostra todos os relatórios experimentais
publicados durante esse período. Inspecionando esta tabela revela-se que
a maioria (61%) das replicações externas reportou resultados
significativos (p < .01) e que a proporção de estudos significativos
não foi significativamente maior para o grupo da Universidade de Duke.
Especificação dos estudos experimentais sobre PES (1934-1939)
Grupo de Duke.
Número de estudos: 17.
Estudos reportados significativos: 15.
Percentual de significância: 88%.
Grupo não-Duke.
Número de estudos: 33.
Estudos reportados significativos: 20.
Percentual de significância: 61%.
Depois de 1940, céticos entrincheiraram-se e concentraram em alegar a
fraude dos sujeitos, do pesquisador e de ambos. O psicólogo C.E.M.
Hansel, um dos mais vociferantes críticos da época, reverberou mais uma
das generalizações céticas ao dizer que “é amplamente adotada
inicialmente a assunção que a PES é impossível, visto que existe um
grande peso de conhecimento suportando esse ponto de vista”. Carter
(2007) esclarece que Hansel simplesmente não traz nenhum documento para
basear a argumentação dele. Hansel (1964), em seu livro, ESP: a
Scientific Evaluation, ainda hipotetiza um meio para explicar por meios
fraudulentos como Pearce poderia ter trapaceado Pratt naquela fantástica
série. Radin (2006) comenta que “se Hansel tivesse obtido a planta real
daquele andar, teria visto que sua ‘hipótese da espiada furtiva’ era
impossível”.
http://www.debatepsi.com/Rhine.html
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